quinta-feira, 4 de setembro de 2008

LUTO - Apresentação do Capelo de Barcelos

A característica que nos distingue das outras espécies animais, isto é, o ser humano enquanto ser racional, é a mesma que nos permite estar conscientes da inevitabilidade da morte, a nossa e a dos nossos ente-queridos. Vivemos numa sociedade em que a morte é um assunto quase tabu, em que o luto é asfixiado em conchas fechadas, reprimindo-se a dor, o desabafo, as lágrimas, a manifestação do misto intenso de emoções que nos assolam face à perda de um ente-querido.
Afinal, o que é o luto? Face à perda de alguém querido, as emoções atropelam-se, os pensamentos confundem-se e sentimo-nos desorientados, perdidos, tristes, zangados, aliviados... dores profundas que nos acompanham no dia-a-dia que, incrivelmente, continua impertubavelmente a sua rotina, apesar de todo o nosso sofrimento. O mesmo se aplica face à perda resultante de separação/divórcio, aborto, nascimento de um filho com deficiência física e/ou mental, perda do emprego, amputação de membros, a morte/perda de um animal de estimação, etc. Isto é, o luto existe inevitavelmente quando nos confrontamos com a perda de alguém ou alguma coisa significativa para nós. No seu livro “Desatar o Nó do Luto”, José Eduardo Rebelo descreve-o como “um período de tempo que necessitamos de viver, após a perda de uma pessoa que nos era muito querida, para que todos os momentos belos que com ela partilhámos se transformem em doces e suaves memórias”. Um período de tempo, portanto, em que precisámos reorganizar os sentimentos, as rotinas, as recordações e, no fundo, a vida após uma perda significativa. No fundo um processo. Um processo quase sempre difícil, sempre doloroso, quase sempre longo, nunca terminado.
A APELO, Apoio à Pessoa em Luto, surge para apoiar-nos neste processo. Um espaço de acompanhamento psicológico, aprendizagem, formação, desenvolvimento, esclarecimento de dúvidas e partilha de emoções. Um espaço em que não é tabu falar da morte, da pessoa querida que perdemos, da doença que nos consome e que condena o nosso tempo de vida obrigando-nos ao luto por nós próprios. Um espaço em que não nos pedem para conter as lágrimas que nos sufocam, não nos pedem para calar os gritos de revoltam que apertam o peito, não nos pedem para esquecer. É um espaço onde podemos chorar, gritar, expressar todos os sentimentos e recordar, partilhar a dor, a confusão, a revolta sem que nos julguem.
Implementando-se na cidade de Barcelos, o Centro de Apoio à Pessoa em Luto (CAPELO), procura chegar junto da comunidade de Barcelos e arredores, junto das pessoas em luto, contando com a colaboração de várias associações, centros sociais, hospitais, etc.

Sandra Ferreira
Psicóloga